MATERNIDADE
Maternidade é uma coisa muito interessante. Inerente à maioria das fêmeas, oriunda, acredito eu, pelo instinto de manutenção da espécie. Chega um momento na vida que o relógio biológico desperta e aquela desejo incontrolável de ser mãe apita, grita e faz com todo as suas atenções e sentidos se virem para isso.
Acho engraçado que a maioria dos atos de uma mãe é comparado ao reino animal. Expressões como - defender como uma leoa, abraço de ursa, mãe coruja, pisada de galinha, deixar o ninho, voar com as próprias asas e outras, estão sempre invadindo nosso cotidiano. Será que é por que o amor de mãe é puro instinto?
Ou talvez por que as mamães animais corram mais riscos para defender seus filhotes. E precisam então, de uma carga física maior. Mas no reino animal a grande maioria das crias fica com sua mãe por pouco tempo. Assim que seus filhotes aprendem as regras básicas de sobrevivência são deixados a mercê da própria sorte. Por que o instinto animal vai muito além da proteção, precisa existir a manutenção da espécie. Procriar é essencial.
Com os humanos as coisas não funcionam bem assim, pelo menos na grande maioria das culturas o objetivo maior das mães é permanecer o maior tempo possível com os filhos. A regra é prepará-los para a vida, mas quanto mais tempo permanecerem embaixo das “nossas asas”, melhor.
Mas, chega um dia que eles têm que partir. Alçar novos voos e deixar o ninho. Para os pais isso é muito doloroso. Tanto quanto à primeira ida para o berçário, o primeiro dia de aula, a primeira viagem com a turma, o primeiro namoro. A vida tenta, com essas situações nos preparar para o dia da partida, mas não tem jeito, coração de mãe é muito complicado.
Como deixar partir um ser que viveu dentro dela. Ela que modificou seu corpo para abrigá-lo, que transformou seu sangue em leite para alimentá-lo. Como entender que aquele corte do cordão umbilical não foi uma coisa ritualística. Como entender que durante a vida toda, outros cortes iriam acontecer, até que um seria definitivo.
Um dia todos fazem isso, não tem jeito, nós fizemos, eles fazem e seus filhos também o farão. É o ciclo da vida.
Mas para alguns pais isso é tão doloroso que até existe uma doença denominada Síndrome do Ninho Vazio. Trata-se de uma depressão leve que acomete principalmente as mães quando os filhos saem de casa. Um enorme buraco cresce no seu peito e na sua vida. O que fazer agora, pelo que viver?
Ainda não tive tempo de sentir isso. Minha filha alçou seu voo inaugural hoje. Tirando aqueles de testes que foram feitos durante toda a sua vida, o de hoje foi rumo a um destino que acreditamos e torcemos, será mais longo e talvez definitivo.
Coração de mãe, além de complicado é muito engraçado. Por que lemos nas entrelinhas, percebemos pequenos detalhes e nosso sexto sentido está sempre apurado.
Lembro quando minha mãe atendeu a um telefonema de uma mulher procurando meu irmão. Ela desligou, torceu o nariz e disse: “- Essa moça vai levar o meu filho.” E, de fato, aconteceu. Em pouco mais de um ano meu irmão se casaria com a tal moça. Como ela podia saber?
Há dois anos, mais ou menos, entendi a minha mãe. Quando minha filha começou a namorar eu senti a sombra da perda se aproximando. Não que ela nunca tivesse namorado. Não era o primeiro, mas eu senti que ele a levaria de mim.
Talvez, por eu ser mulher, consiga entender melhor o que está acontecendo. Eu segui meu relógio biológico e agora é hora de ela seguir o seu. Ou eu queira acreditar que não estou perdendo uma filha e sim ganhando um filho. Ou simplesmente ainda não tenha caído a ficha. Afinal, só faz algumas horas que ela partiu.
O importante é que seja feliz. Foi o que falei para ela quando arrumava as malas. Começou a pedir algumas coisas minhas para levar e eu só falando sim e, ela me perguntou: “-Como você consegue dar as suas coisas, não sei se terei o mesmo desprendimento.” Eu olhei para ela, sorri e respondi: “-Vai sim, por que quando temos um filho, nosso único objetivo é fazê-lo feliz. E se somos capazes de dar a nossa vida por eles, dar alguns objetos não é nenhum problema. Nada no Mundo é mais importante que a sua felicidade.”.
Agora, no meu peito bate um coração apertadinho, mas certo que fez o seu melhor e que ela sempre terá um lugar para voltar.
By Cecília.